segunda-feira, agosto 07, 2023

Acordando no Inverno

Sylvia Plath

Tradução: Mônica Fernandes


Consigo sentir o gosto de lata do céu -- o gosto real da lata.

As manhãs no inverno tem cor de metal.

As árvores pregadas em seus lugares feito nervos queimados.

Sonhei a noite toda com destruição, aniquilações --

Uma linha de montagem de gargantas cortadas - e voçê e eu

Bebendo o verde no Chevrolet cinza que avança

Veneno de grama calma, minúsculos túmulos de papelão,

Silenciosos, sobre rodas, a caminho da praia.


Como ecoavam as varandas! Como o sol acendia

Os crânios, os ossos frouxos mirando a paisagem!

Espaço! Espaço! Os lençóis totalmente consumidos.

Os pés da cama em rebeldia derretidos e as enfermeiras -

Cada enfermeira bordou numa ferida a alma e sumiu.

Os convidados morimbundos não estavam satisfeitos

Com os quartos, com os sorrisos, com as maravilhosas plantas de borracha,

Com o mar, silenciando seus sentidos descascados como a Velha Mãe Morfina.


Waking In Winter - Sylvia Plath

I can taste the tin of the sky —- the real tin thing.
Winter dawn is the color of metal,
The trees stiffen into place like burnt nerves.
All night I have dreamed of destruction, annihilations —-
An assembly-line of cut throats, and you and I
Inching off in the gray Chevrolet, drinking the green
Poison of stilled lawns, the little clapboard gravestones,
Noiseless, on rubber wheels, on the way to the sea resort.

How the balconies echoed! How the sun lit up
The skulls, the unbuckled bones facing the view!
Space! Space! The bed linen was giving out entirely.
Cot legs melted in terrible attitudes, and the nurses —-
Each nurse patched her soul to a wound and disappeared.
The deathly guests had not been satisfied
With the rooms, or the smiles, or the beautiful rubber plants,
Or the sea, Hushing their peeled sense like Old Mother Morphia.