Em dezembro de 2016. Em algum lugar do Rio de Janeiro.
Esta não é uma apologia à pobreza mas antes um elogio à vida.
Eu não sabia por que, sabia que tinha que sair, e isso era urgente. Agora vou aos poucos percorrendo o sentido de ter saído. Acho que ajuda não ter dinheiro para comprar coisas e ter que passar os dias, as horas percebendo coisas. Não é dado a todo ser fazer pouco e estar no mundo e em seu corpo. Nos é tirada uma necessidade básica, que é a necessidade da vida, e nos é imposta compulsoriamente, sem que nos demos conta, uma infinidade de necessidades desnecessárias. A riqueza que existe em ser pobre.
Pobre, mas com água quente, com comida simples na barriga, um teto aconchegante e um pouco de dinheiro para se locomover (essas coisas tão boas e preciosas). O ser humano se corrompeu tanto, mas tanto, que acredita sinceramente ser justificável retirar da existência aquilo que ele mais precisa. Não falo em sobrevivência. Sobrevivência é o que experimenta a pessoa que acorda, dá sua vida toda em troca de um acordo inconsciente e sórdido. Para esse que vive na busca incessante de meios, para esse, infelizmente, só resta a medicina e seus aparatos pacificadores.
Ser sobretudo e principalmente pobre, mas possuir recursos que me permitam ver. A pobreza dos recursos psíquicos é mais massacrante do que a diminuição nos recursos financeiros de uma pessoa.
Existe ainda a alegria do encontro com o outro. A alegria genuína que existe em nos depararmos com o outro. Se não sabe, o outro pode ser um cão, um gato, seu vizinho, seu melhor amigo, uma jabuticabeira.